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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

A maneira como vemos o mundo

Não existe Razão sem Fé. Uma análise sincera e profunda evidencia que por trás de toda a lógica estão crenças fundamentais que podem ser explicadas pela razão...
Lembro-me que quando entrei na faculdade, minha colocação no vestibular permitiu que eu fosse convidado para o chamado “Programa Avançado de Matemática (PAM)” da UFSC. Cheguei a cursar uma ou duas semanas de “Cálculo I” que era uma versão de carga horária maior que o tradicional “Cálculo A” da Engenharia Mecânica. O professor de cabelos grisalhos, cujo nome não me lembro mais, disse que nós iríamos até os “fundamentos da matemática”. De fato, ele mencionou os axiomas fundamentais desta disciplina considerada a mais lógica de todas as ciências. Nossa primeira aula foi inesquecível: com base nos fundamentos mais básicos da Matemática o professor fez uma demonstração extensa e bastante sagaz onde comprovou que o número 1 é diferente do número 0. Emocionante! Esta aula foi tão marcante para mim que me convenci não ser necessário aprofundar-me tanto em Matemática para aquilo que eu pretendia profissionalmente.

Bem, qual a razão de eu estar mencionando isso? É que eu extraio uma lição dessa aula: é impossível explicar tudo pela Lógica. Como assim? Mesmo a Matemática, a mais lógica das Ciências, precisa de Axiomas. A Wikipédia define axioma da seguinte forma:

Um axioma é uma sentença ou proposição que não é provada ou demonstrada e é considerada como óbvia ou como um consenso inicial necessário para a construção ou aceitação de uma teoria. Por essa razão, é aceito como verdade e serve como ponto inicial para dedução e inferências de outras verdades (dependentes de teoria).

A maneira como vemos o mundo é chamada por alguns de “Cosmovisão particular”. Ela é construída ao longo de nossa existência sendo influenciada por fatores internos e externos a nós. Nós interiorizamos vários “axiomas” acerca da tudo, de tudo mesmo, que se possa imaginar. Ninguém em sã consciência pode afirmar que encara os fatos da vida com “absoluta neutralidade”, pois, por mais “aberto” que alguém seja a novos conceitos, sempre terá uma percepção susceptível a desvios. Itiro Lida, autor do livro: “Ergonomia: Projeto e Produção” (1990) menciona alguns desvios típicos estudados por esse ramo da ciência*:

Simplificação - Devido às limitações de nosso cérebro, as pessoas tendem a simplificar a realidade, enquadrando-a dentro de sua capacidade de análise.

Tendência conservadora - As pessoas geralmente tendem a conservar as suas hipóteses iniciais de trabalho, mesmo que fatos novos acontecidos durante o trabalho evidenciem o aparecimento de novas hipóteses. Ás vezes até desprezam esse fatos novos, para que a hipótese anterior possa continuar valendo.

Um artigo recente da Folha de São Paulo ilustra bem essa tendência conservadora mostrando que na internet a maioria das pessoas se cerca daqueles que possuem o mesmo ponto de vista, não havendo predisposição para uma troca que implique em mudança de opinião. Veja a reportagem completa “Conectados mas fechados em si” no link:


A reportagem da Folha.com – Ciência: “Maioria dos cientistas já testemunhou abuso ético - 22/07/2010” mostra algo geralmente despercebido: que nem sempre aquilo que se vende como “Ciência” é verdade por causa de adulterações de resultados. A tendência conservadora não é a única causa desse tipo de comportamento, obviamente, pois podem haver interesses financeiros ou de reconhecimento por trás dessa postura
http://www1.folha.uol.com.br/ciencia/770762-maioria-dos-cientistas-ja-testemunhou-abuso-etico.shtml

Tendência central - As pessoas tendem a superestimar as probabilidades de baixíssima freqüência e a subestimar aquelas de alta freqüência. É isso, por exemplo, que faz as pessoas apostarem em loterias com chances de acerto muito baixas ou temerem doenças de baixíssima ocorrência, ou desprezarem os cuidados em acidentes de alta freqüência.

Predominância de fatos mais recentes – Os fatos mais recentes tendem a predominar sobre aqueles mais antigos, mesmo que estes últimos tenham sido mais intensos ou mais graves. Isso equivale a dizer que o tempo contribui para amortecer os fatos.

Influência de fatores estranhos – Alguns fatores sem ligação aparente podem parecer correlacionados. Por exemplo, se forem instalados dois motores novos em carros usados, aquele que tiver a carroceria mais amassada e enferrujada geralmente será considerado também como tendo o pior motor, embora sejam iguais. Na Folha.com - Ciência foi publicada uma reportagem entitulada: "Sensações táteis influenciam decisões do dia a dia, diz pesquisa" - 04/07/2010. Dois grupos de voluntários receberam pranchetas com pesos diferentes na mão enquanto tinham que fazer avaliações de valor sobre determinadas questões apresentadas. O estudo demonstrou que o peso das pranchetas influenciou de maneira determinante o seu julgamento de valor! 

Existem muitas outras pesquisas recentes evidenciando que nossa percepção é afetada por vários fatores estranhos. Veja exemplos outro exemplo:
Eleitores dão preferência a candidatos mais bonitos, diz estudo

Preferência do observador – O observador manifesta preferências por objetos salientes (maior contraste, mais cores, mais brilho) e que se localizam no centro do seu campo visual. Essa tendência acentua-se com o nível de fadiga do indivíduo.

Bem, para terminar, não foi à toa que eu decidi começar minha série de artigos com esse assunto: muitos dos argumentos dos céticos à Fé se apóiam na falsa idéia da “neutralidade” e “pura lógica” da Ciência. Pois é, se a própria Ciência mostra que não somos pura lógica e que tudo, até mesmo a Ciência, tem suas tendências e precisa de axiomas que são simplesmente aceitos ( prefiro o termo “cridos”) porque essa aversão extrema de alguns indivíduos aos que dizem professar sua fé em Deus?

* Ergonomia é o estudo da adaptação do trabalho ao homem.

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