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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Ficção, Cinema e Comportamento Pós-moderno

Não sou crítico de cinema.  Gosto de assistir uns filmes e desenhos de vez em quando, mas não é um passatempo que eu leve a sério. Algum tempo atrás li uma reportagem (não consegui achá-la pra postar o link aqui) afirmando que os "heróis" do cinema estavam fadados a sumir. Recentemente assisti um filme que me fez pensar naquela reportagem: foi o filme recente de Sherlock Holmes.




Muitos elogiaram o filme por ser "mais fidedigno" ao original, mostrando bem a faceta arrogante, aventureira, sociopata, porém brilhante de Holmes. Segundo consta na Wikipédia, o personagem original era usuário de cocaína nas horas vagas em sua clausura do apartamento londrino. Nas palavras de seu autor, Holmes morreu assassinado com mais de 100 anos de idade após ter se aposentado há muito tempo. Como o "Making of do filme" diz, Holmes tem poucos amigos e é procurado pelas pessoas não porque seja agradável conviver com ele, mas porque elas precisam dele.

Ao que parece a personagem é a grande fonte de inspiração para o comportamento de outro sociopata arrogante: o Doutor House. A série, que faz muito sucesso assim como os livros de Sherlock Holmes, apresenta o mesmo sarcasmo, arrogância e falta de sensibilidade para com o próximo.

Será que os "mocinhos" estariam de fato em baixa? Olhando para alguns destes novos "heróis", parece que há uma certa desilusão com a idéia de idealismo moral e com as instituições. Estes heróis modernos tendem a ser solitários, cheios de conflitos interiorizados, personalidades complexas e fragmentadas, o que reflete os conflitos do homem pós-moderno e sua empatia com o individualismo. As personagens são rebeldes para com as instituições governamentais, por não confiarem nelas ou por menosprezá-las. Isto também parece ser uma tendência de nosso tempo: os governos estão caindo em descrédito (veja o caso do Wikileaks, por exemplo).

Admitamos: Holmes e Dr. House, provavelmente seriam indivíduos intoleráveis socialmente se não fossem muito inteligentes. Numa sociedade que avalia pessoas pelos resultados materiais e não pelo seu valor humano instrínseco, indivíduos como estes são "amados" por sua notável contribuição à resolução de problemas ou, o que é pior, por sua irônica capacidade de ofender os outros e ainda sair por cima. No meu ponto de vista porém, falta-lhes o mais importante: caráter. Eles pisam nos outros propositadamente! Eles estão cheios de péssimos vícios, mas são incapazes de se deixar ajudar por considerarem-se pessoas superiores aos outros. Torno a frisar: só uma sociedade que valoriza resultados em detrimento dos relacionamentos é que exalta este tipo de personalidades.




Ok, "todos nós temos nossos defeitos" alguém dirá e outro rapidamente retrucará dizendo: "Os mocinhos do passado eram idealizados demais, muito açucarados, não parecendo pessoas reais". Concordo que os heróis açucarados geralmente não são convincentes como seres humanos. Defeitos fazem parte de nossa humanidade e, por isso, mostrá-los numa ficção torna qualquer personagem mais realista. O que realmente me incomoda não são os defeitos, mas o conformismo justificado com arrogância. Antigamente, apenas os vilões dos filmes tinham este comportamento. Agora ela é compartilhada pelos "heróis". Até desenhos como: "Meu malvado favorito" e "Megamente" começam a exaltar o lado ruim das pessoas. A soberba é um terrível mal que nos impede de reconhecer erros e de buscar melhorar.


 Ainda bem que sobraram alguns bons "mocinhos" modernos. Gosto de heróis como o Shrek: no começo um sujeito mal humorado, sujo, solitário, mas que no decorrer de sua história, sai de si mesmo, luta com suas falhas de caráter e desenvolve belos relacionamentos. No final ele tem muitos amigos e família, mesmo que tenha passado por diversas crises no processo. Prefiro 'Hancock´s do que 'Sherlock's: Hancock é um super-herói inicialmente bêbado, socialmente desajustado, mas que ao reencontrar um sentido de sua existência, revê seus comportamentos e se torna uma pessoa positiva. Gosto do bando da "Era do Gelo", cada qual sendo muito diferente e tendo que aprender a se ajustar e ceder para manter os laços de amizade.


Resumindo: falhas de caráter até podem existir (e sempre existirão), mas não podem ser justificadas e valorizadas. Humildade, relacionamentos sadios e busca pelo ideal moral ainda são valores que se deveria exaltar.


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