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domingo, 29 de agosto de 2010

Seria a fé em Deus algo nocivo à humanidade?

Richard Dawkins em seu famoso livro “Deus: um delírio” afirma que toda e qualquer religião é nociva à humanidade. O autor cita vários exemplos dos malefícios provocados pelas religiões do mundo. Segue algumas razões pelas quais discordo do ponto de vista dele.
1° - Dawkins coloca todas as convicções de fé como “farinha do mesmo saco”
Pontos de vista diametralmente opostos são tratados simplesmente como “as religiões” por Dawkins. Se um individuo ou grupo é agressivo, mata ou agride seu próximo em nome de sua religião então eu posso generalizar e dizer que a fé é algo nocivo? Se alguém extorque dinheiro e oprime o próximo em nome de Deus é motivo para condenar toda e qualquer manifestação de fé em Deus?
Farei uma analogia para mostrar que isso tal generalização é incoerente:
-Em nome da ciência, Josef Mengele fez vários experimentos macabros com prisioneiros durante a Segunda Guerra Mundial, alavancando áreas da Medicina no século XX, porém de modo cruel e inescrupuloso.
-Em nome do progresso e até da “paz”, governos de todo o mundo ao longo da história desenvolveram a arte da guerra. Grandes descobertas da História foram motivadas por disputas de poder e guerras entre potências emergentes. Incontáveis mortes, sofrimento e desperdício de preciosos recursos advêm disto;
- Parte do conhecimento científico hoje gerado não é confiável e serve apenas para atender a lobbies de grupos que querem manipular a opinião pública ou para manter o status de pesquisadores e instituições (Exs.: Fraude em ciência , 29% das pesquisas sobre câncer têm conflito de interesse)
- A Revolução Industrial e o assombroso desenvolvimento propiciado por ela nos levaram aos complexos problemas ambientais que temos hoje e teremos no futuro.
Condenarei então a ciência e o progresso por tudo isso e muito mais? Criticarei todos os cientistas por que existem aqueles que vendem sua ética por interesses particulares? Claro que não! A ciência e o progresso são habilidades humanas, são como “ferramentas” que podem ser bem ou mal usadas. Porque então afirmar que a fé é nociva? Ela também é uma aptidão humana que pode ser usada para bem ou para mal. Não é justo condenar a fé de todos pelo mau uso desta por uma parcela de seus portadores. 

2ª. – Dawkins afirma que são raríssimas as contribuições positivas da religião para o mundo;
No prefácio do livro, Dawkins é desafiador ao afirmar que a fé motiva pouquíssimas contribuições positivas ao mundo e enfatiza que os homens da ciência é quem contribuem positivamente para um mundo melhor. Não discutirei aqui a contribuição da Ciência (talvez o faça num post específico), nem acho que todas as convicções de fé são positivas, mas em relação à fé cristã bíblica, algumas questões devem ser desmistificadas para desfazer esse argumento:

a)       O noticiário introduz uma tendência negativa sobre o assunto
Qual das duas notícias abaixo você acha que tem maior popularidade?


Justiça abre novo processo contra casal Hernandes
As organizações religiosas garantem 40% dos tratamentos de saúde no mundo.


Independentemente de sua opinião, a verdade é que a primeira foi amplamente divulgada, enquanto que a segunda é praticamente desconhecida. Por quê? Por que as pessoas gostam mais de falar mal dos outros do que bem, porque amam a polêmica, porque o erro dos religiosos inconscientemente é usado para justificar os nossos erros, porque há interessados em desacreditar líderes religiosos, etc. Quem vende notícia está atento aos índices de audiência e depende dessa receita para manter-se no mercado. Então é natural que haja muito mais notícia ruim acerca de religiosos e que estas sejam mais divulgadas.

b)       Os melhores exemplares da fé cristã raramente são figuras popularmente conhecidas
O próprio Dawkins  reconhece, no prefácio de seu livro, que Dietrich Bonhoeffer é um “bom religioso”, uma exceção, um contra-exemplo de sua opinião sobre religiosos. Nada popular em seu tempo, este homem morreu na prisão durante a Segunda Guerra porque não calou a boca diante de Hitler e defendeu que a fé cristã não compactuava com as atrocidades do Estado e da Igreja oficial. Mesmo na prisão escreveu cartas, recados e sermões inspiradores em bilhetes escondidos. Se Hitler tivesse vencido a guerra, Bonhoeffer jamais seria conhecido, mas como a história teve um destino diferente, ele se tornou acidentalmente um ícone póstumo da resistência. Há e houveram muitos “Bonhoeffers” espalhados pelo mundo, com a diferença que a maioria deles nunca terá um lugar na História oficial. São homens e mulheres que vivem geralmente com pouco dinheiro e recursos, que amam e ajudam os necessitados e motivam-se por sua fé para vencer grandes obstáculos. Trabalham exaustivamente e não estão preocupados com autopromoção. Conheço pessoalmente vários deles e posso dizer que os admiro. Não são os sacerdotes televisivos, perfumados, bem vestidos e eloqüentes que me impressionam, mas a vida desses “Bonhoeffers” que me mostram a melhor face da fé.

c)       Quantidade x qualidade
Talvez o número de “Bonhoeffers” esteja de fato declinando em nossa sociedade “moderna” que mede “sucesso”, mesmo no meio religioso, através de números, poder e marketing pessoal. Ainda sim, chamo a atenção não para a quantidade, mas para a qualidade dos incomparáveis bons exemplos e gostaria que o leitor conhecesse biografias inspiradoras como a de Bonhoeffer, Hudson Taylor, John Wesley, e mesmo outros anônimos com quem convivo.

d)       A velha tendência de destacar o pior das pessoas prejudica a neutralidade do julgamento de valor
Tenho muitas e sérias divergências com a Igreja Católica. Mas não posso deixar de reconhecer que é graças a ela que a Europa sobreviveu ao caos gerado pelo fim do Império Romano. Para os defensores da revolução industrial e do pensamento científico moderno, que surgiu na Europa e hoje influencia o mundo, digo que eles têm uma dívida de gratidão para com a Igreja Católica: foi ela também quem deu coesão à Europa fragmentada em feudos para suportar as invasões orientais posteriores permitindo que o pensamento ocidental não fosse extirpado da face da Terra.
Não concordo com o governo da igreja na mão de papas, mas tenho que reconhecer que Gregório, o primeiro papa, foi o único indivíduo capaz em seu tempo e que se importou com a miséria de Roma no século V, unificando, por questões do momento, o poder eclesiástico e político para a melhora das condições de vida da sociedade romana. Pena que essa fusão se perpetuou.
Poderia pensar em mais dezenas de exemplos, talvez até melhores que estes que vieram à minha memória inicialmente, mas o que quero dizer afinal: que quando só olhamos para os pontos negativos das pessoas e instituições, tendemos a odiá-las. Elas se tornam monstros horripilantes e esquecemo-nos de ver os seus pontos positivos. O senhor Dawkins  infelizmente pendeu para esse extremo nocivo e passou a odiar todos os religiosos. Não quero dizer com isso que ele não tenha suas qualidades (senão estaria cometendo o mesmo erro dele): creio que ele no fundo deseja o melhor para a sociedade. Mas o que há de mais nobre em odiar cristãos do que a dita “intolerância religiosa” que o Sr. Dawkins  combate? Nada! Isto só semeará mais agressividade malévola à sociedade! Felizmente, acredito que a maioria dos ateus não é radical como ele.

Pesquisas na área da Psicologia mostram que sentimentos têm forte impacto na forma com que processamos a realidade à nossa volta e em nossos julgamentos. O Sr. Dawkins  astutamente gasta o seu primeiro capítulo de “Deus: um delírio” tentando gerar fortes sentimentos de repulsa à religião É claro que, depois dessa predisposição negativa, abre-se uma avenida na mente do leitor para aceitar seus argumentos subseqüentes, independentemente do quão consistentes eles sejam.
Encerro meu post com duas rápidas citações da Bíblia:
“Para Deus, o Pai, a religião pura e verdadeira é esta: ajudar os órfãos e as viúvas nas suas aflições e não se manchar com as coisas más deste mundo.” Tiago 1:27
E para vencer as coisas más desse mundo....
”Porque todo o que é nascido de Deus vence o mundo; e esta é a vitória que vence o mundo: a nossa fé. Quem é o que vence o mundo, senão aquele que crê ser Jesus o Filho de Deus?" (1 João 5:4,5)


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